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Marrocos - Parte Final

O final da viagem do Marrocos

Parte 6 e última!
A viagem ao Marrocos vai beirando seu 1 ano e ainda não terminei de postar sobre ela. Nem sobre a Alemanha, nem sobre as dicas de Manchester/Liverpool/Bournemouth, nem a série sobre Oriximiná alguns posts  'póstumos 5 anos' daquela aventura na Amazônia, nem nenhuma viagem que fiz durante esses 10 meses pós-retorno-ao-Brasil, conforme havia prometido. Me envolvi com o meu cotidiano e fui deixando. Bem, fica para uma próxima.

Aeroporto de Menara, Marrakesh, 03 de Junho de 2011

           Marroquinos não cansam de serem simpáticos, de dar atenção, alguns até chegam a ser muito malas de tão solícitos. Hoje fiz amizades em uma cafeteria no aeroporto. Nossa! Perguntei de tudo: de aluguel, de estudo, de salário, de como se cumprimenta. É, eu poderia passar uma temporada aqui, quem sabe né?!
        Quanto interesse em saber do Brasil e compartilhar sobre o Marrocos. Dei os meus últimos Dirhams à eles e eles foram super gratos. Essa simplicidade me constrange. O rapaz me passou seu e-mail, mas a garota, o seu telefone, porque não tinha e-mail. E ela me disse também que eu sou linda, ganhei meu dia, já que eu estou um caco, mas parecia bonita mesmo assim ou ela estava me enxergando com os olhos do coração. hehe

Aguardando o vôo para Madrid. 
A última noite na África

            Ontem, minha última noite, fui comer em um restaurante chique e paguei pra ver eu sozinha na praça Jemma El Fna. Tipo, eu levo em conta ao máximo que eles são um país pobre, que o preço é 3 vezes mais do que o real, que há muitos pedintes, mas não sou adicta às compras, então não tente me empurrar nada. Sendo meu último dia, minha inteligência cultural (leia-se tolerância) já estava no limiar: eu saí só para ver o movimento, ver gente e comer no tal restaurante chique que queria, isto quer dizer, paciência zero para levar em conta o que disse acima e encarar com simpatia os pedintes sufocantes e vendedores insistentes. Vou contar como foi desde que saí do hotel às 21h:

     Saí do hotel por volta das 9 da noite quando começava a escurecer e decidi ir à pé até a praça. Foram 20 minutos caminhando e à essa hora o trânsito ainda é bem caótico e tem muita gente na rua. Andar sozinha em Marrakesh é foda! O assédio é enorme, os olhares vem bombardeando de todos os lados. Uns são mais atrevidos e disseram 'nice ass' no meu ouvido, tão perto que pareciam que iam me beijar. Esse trajeto é de muito movimento turístico, vale lembrar que esse 'atrevimento'  de andar sozinha à noite, não é para a cidade inteira. Parecia todos uns meninos de 11, 12 anos em plena puberdade. 
      Chegando na praça, aquele caos para atravessar a rua: Carro, moto, ônibus, cavalo, cachorro, periquito, papagaio... tudo junto e misturado. Adotei a tática de atravessar a rua com um grupo de locais, lógico que se eles fossem atropelados eu também seria. ha-ha-ha.
        Entrei na praça e já fui direto no suco de laranja que tomei no primeiro dia. Veio um menino me pedindo para comprar uma coisa que não comprei, mas dei para ele um dirham. Eu não sou de dar esmola, isso cê não me vê fazendo no Brasil, mas é comovente aqui. O menino achou que eu dei dinheiro à ele para parar de insistir, mas com o pingo da paciência que me restava, disse à ele que poderíamos continuar a falar de Adriano, Ronaldinho, Kaká & cia, até que meu suco se acabasse. Terminei o suco e fui para a barraca 5, onde estava tocando a versão árabe de "You know I want you'' do Pitbull. Enlouqueci! Quis comprar o cd e chega a hora de pechinchar... O dono da barraca queria me vender um CD por 50 dirhams. De acordo com o que li, eles jogam o preço sempre umas 3 vezes mais. Dai começamos... Falei que pagava 20, ele disse que era original e blá blá blá. Me mostrou um segundo CD e disse que faria os dois à 100. Eu desconversei. Ele retrucou com ''maroccan price'', ''special price for you''. Atuei com simpatia, como me instruíram e disse que era uma brasileira muito bonita e que merecia desconto. Ele riu, outros homens começaram a se aproximar para ver o nosso diálogo. Continuamos a regatear e só comprei quando ele fez 2 por 50 dirhams. 
            O próximo passo foi ir para o restaurante chique porque queria ver odaliscas dançando. Antes que eu pudesse dar um alô ao garçom Abdul na barraca nº 1 que me atendeu no 1º dia, um rapaz me puxa pelo braço. Exatamente isso: me puxa pelo braço. Resolvi dar trela para contar no blog e eis que basicamente o diálogo decorreu assim, traduzindo do inglês:

-Da onde você é? Da Espanha?
-Não sou da Espanha, sou do Brasil.
- Brasil! Ah, Maradona!
- Maradona é da Argentina, amigo. 

A mão continua no meu braço e o rapaz começa a falar da Espanha e fala também para eu entrar na loja. Eu deixei bem claro que não queria comprar nada, estava indo comer. Ele disse que não era para comprar nada, era para ele me mostrar algo porque ele era 'berberie'. Entrei e ele disse que era para dar o cartão dele porque ele faz passeio no deserto. OK! Pensei eu, contato profissional. Ele começou a me mostrar fotos do deserto e falar do passeio. Mencionei que já o tinha feito, mostrei minhas fotos na máquina e que era para ele me dar o cartão dele que recomendaria a outros amigos. O que ele fez? Continuou mostrando as fotos dele falando de preço, para eu fazer o passeio. Aí sim, eu comecei a perder a paciência. 
Qual parte ele não entendeu? Eu fui falando 'OK, ok, me dá seu cartão que eu vou comer agora'. O sujeito começou a falar onde tinha um restaurante para comer. 

- Não obrigado, vou comer em outro.
- Mas esse tem 'good price'.
- Não quero, obrigada!
- Então, você pode comer, voltar e vamos a um bar berberie, tomar cerveja e ouvir canções berberies.
- Não, não posso, amanhã levanto cedo para ir embora.
- Não, mas a gente não vai demorar muito.
-Tchau, estou indo comer.

(Começa de novo a mostrar fotos) 
- Olha, eu sou Aladdin!  Tenho 27 metros de turbante. (Por São Jorge, esse cara acha que eu sou idiota???)

- (Sorriso amarelo).
- Tira uma foto comigo, é grátis.
- Não tenho mais memória.
- Apaga uma foto.
- NÃO! TCHAU!
- Que horas você volta?
- Não sei se volto e não quero ter hora. Tchau, solta meu braço????

Sufocada, fui em direção ao restaurante e mais uma pessoa me agarra pelo braço. Era uma mulher dizendo que ia fazer uma tatuagem de henna na minha mão, que era presente. Beleza, presente ou não, fui deixando ela fazer... E depois não era presente, como eu previa. Paguei 10 dirhams e ela sumiu na multidão.  Ela disse que era tatuagem para achar bom marido, se soubesse, tinha dado só as moedas e vazado. ha-ha-ha





Bom, como descrito, dá pra perceber o quão sutis eles são né?! Porém, é uma empreitada antropologicamente interessante de se viver, você mulher, sem TPM.


Comi bem no tal restaurante, vi as odaliscas, mas as fotos não ficaram boas para postar. Percebi que só a nata frequentava o tal estabelecimento. Homens de negócios entre outros turistas de 'ar fino'. Paguei 100 dirhams e como eu previa, não ia ter dinheiro para voltar de táxi. Voltei à pé mesmo, com atenção redobrada. Estava feliz, saltitante como uma gazela , saí dando esmolas com os últimos dirhams que tinha para mães com filhos nos braços sentadas pelas calçadas e vi um sorriso se abrir em cada uma delas ao falarem 'Merci'. Um coração apertado também. Pobres mulheres!








Na manhã do meu vôo, não tomei café no hotel, fui dar uma última volta pela cidade e também tomei o último chá de hortelã em um jardim de uma lanchonete. 

Chá de hortelã: Bebida tradicional marroquina

Para chegar ao aeroporto, peguei o ônibus (o mesmo que havia pegado para sair de lá no primeiro dia e que o ticket era ida-e-volta) e comecei a terminar toda essa história acima.

'Shokran' Marrocos!







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